PASSO A PASSO DA ADAPTAÇÃO
NA SALA DE AULA
Para
flexibilizar o conteúdo, você precisa sondar o que o aluno já sabe, adaptar o
que for necessário e fazer uma boa avaliação. Abaixo, veja a descrição de cada
uma dessas etapas
1º Diagnosticar
Lembre-se de
que, para construir novos conhecimentos, o estudante precisa contar com um
ponto de partida, isto é, com algum conhecimento já construído por ele e que
esteja relacionado ao conteúdo estudado no momento. Por meio de uma sondagem
(um diagnóstico inicial ) descubra o que ele já sabe e verifique como pode
contribuir com o coletivo. Tire o foco do diagnóstico médico e proponha
situações desafiadoras para descobrir até onde o aluno pode chegar. Os laudos
médicos são importantes para que conheçamos algumas características que
costumam estar presentes em alunos com alguns tipos de deficiência, mas não
contribuem para planejar o dia a dia em sala de aula.
É muito
comum, sobretudo nos casos de alunos que apresentam algum tipo de deficiência
intelectual, que a preocupação seja sobre o que “está faltando”, sobre aquilo
que ele não sabe, mas isso raramente ajuda. Em vez de olhar para as
dificuldades, foque nas possibilidades de aprendizagem. Você pode propor uma
atividade diagnóstica específica e, no dia a dia, manter o olhar atento sobre o
que o aluno conhece, qual a sua participação em projetos e trabalhos em grupo e
em todas as atividades cotidianas.
A educadora
Maria da Paz Castro, da Escola da Vila, em São Paulo, complementa com um
exemplo. Ela cita o caso de um aluno que, ao contrário dos colegas, ainda não
aprendeu a escrever. Se isso acontece o professor deve investigar o que a
criança já sabe em relação à escrita e, a partir daí, traçar uma meta de
aprendizagem. “Saber que ele precisa ser alfabetizado é muito pouco, muito
amplo, e não nos aponta um caminho. Por outro lado, verificar que, embora não
escreva da forma convencional, faz tentativas de escrita utilizando as letras
que compõem seu nome, já nos aponta uma meta possível de ser alcançada neste
primeiro momento”, explica. Nesta situação imaginada pela especialista é
preciso estimular o estudante a ampliar seu repertório de letras. Isso pode ser
feito, por meio da apresentação dos nomes dos colegas, para que perceba a
existência de outras letras e reflita sobre a melhor forma de utilizá-las.
Outra
hipótese, agora na disciplina de Matemática. É possível que haja um estudante
que não se mostra capaz de fazer um cálculo simples, mas consegue considerar,
por exemplo, que a cada dez números contados a sequência de unidades se repete
(21, 22, 23, 24... 31, 32, 33, 34). Para este exemplo, o educador poderia
estabelecer algumas metas, como propor uma contagem mais longa e a construção
de outros conhecimentos sobre a organização do sistema de numeração, de
fundamental importância para que o aluno consiga resolver problemas matemáticos
no futuro.
2º Adaptar (ou flexibilizar)
Lembre
sempre que as atividades são planejadas com base no contexto da sala de aula.
Em algumas situações de adaptação curricular, é necessário transformar apenas
os objetivos das sequências didáticas. Em outros casos, você deverá
flexibilizar os meios para realizar certas atividades, lançando mão de mais
recursos sonoros, visuais ou táteis, por exemplo.
Vejamos: no
caso de um projeto que propõe a produção de um livro de animais para crianças
do 3º ano, que, na maioria das vezes já sabem escrever, temos, para a classe,
objetivos que visam a sistematização da escrita, a construção de procedimentos
do escritor relativos ao texto informativo, a escrita das palavras já fazendo
uso de muitas regras de ortografia, entre outros. Para aqueles alunos que ainda
estão em fase de construção da compreensão das regras do sistema alfabético,
podemos ter como meta os avanços que estes alunos podem ter escrevendo os nomes
dos animais, observando e analisando o material de pesquisa onde se encontram
palavras familiares, arriscando-se a escrever pequenas legendas (ainda que não
consigam fazê-lo da forma convencional) etc. No caso dos alunos que apresentam
deficiência visual, física ou auditiva, nossa função é fornecer-lhes o acesso
ao material, lançando mão dos recursos conhecidos, tais como, aparelhos, lupas,
o sistema braile e até das “nossas mãos”, se for preciso.
O currículo
deve ser adaptado ou personalizado se o professor, junto à equipe pedagógica da
escola, reconhecer a necessidade de o aluno contar com intervenções que se
diferenciam de forma significativa das aplicadas ao resto da classe. Todos os
alunos precisam aprender e construir procedimentos e posturas condizentes com a
condição de estudantes. Portanto, nada de deixar seu aluno com deficiência como
“café com leite” da turma.
Para
exemplificar, listamos algumas orientações gerais de flexibilização para casos
de deficiência intelectual, física, visual e auditiva. Veja:
Deficiência
Intelectual: cada um
destes alunos é único. Por isso, é preciso conhecer os pontos fracos e
fortes dessa criança para fazê-la avançar pelos meios mais adequados. É comum
que estes estudantes tenham dificuldades com conteúdos abstratos.
Contextualizar
as atividades e os conteúdos com situações do cotidiano podem ajudá-la a
aprender. Outra sugestão é flexibilizar o tempo de realização da atividade
conforme o ritmo da criança e repetindo as etapas sempre que for
preciso. Isso não quer dizer que daremos a eles “todo o tempo do mundo”,
pois, assim como os demais, esses alunos precisam ser desafiados a fazer as
atividades em um tempo cada vez mais curto.
Deficiência
Física: se o seu aluno possui
deficiência física nos membros superiores, ofereça a ele pranchetas com apoios
para que tenha firmeza ao escrever. Os lápis e canetas também devem estar
envoltos em espuma, para que não escorreguem. Se houver limitação nos membros
inferiores, este não é um motivo para excluir o aluno das aulas de Educação Física.
Eles podem participar jogando com as mãos e você pode adaptar algumas
modalidades para que todos joguem nas mesmas condições.
Deficiência
Visual: em parceria com o AEE,
ofereça registros escritos em braile ao aluno cego. Deixe que ele grave as aulas
e, se tiver uma máquina braile, respeite o tempo de escrita desta criança (que
pode ser maior que o dos colegas). Providencie, ainda, estímulos táteis,
auditivos e olfativos, para que a criança consiga perceber texturas, formas e
aromas.
Deficiência
Auditiva: ter um intérprete de Libras
na escola é um direito. Mas, se a sua escola ainda não contar com a ajuda deste
profissional, não desista. Abuse dos estímulos visuais e táteis, ofereça bons
registros escritos e em imagens e ajude o seu aluno no dia a dia. Proponha que
ele sente nas carteiras da frente e procure falar olhando para o aluno, caso
ele seja capaz de fazer a leitura orofacial.
3º Avaliar
Determine
metas, intervenções e objetivos de aprendizagem específicos para os alunos que
apresentam algum tipo de deficiência. Consequentemente, a avaliação
desses estudantes vai refletir as adaptações que você fez para ensinar, já que
a avaliação é sempre pautada no que já foi dado em sala de aula.
É
fundamental considerar que, se a classe inteira está fazendo uma prova, esse
aluno também deverá ser submetido à situação de avaliação que, obviamente,
deverá ser construída a partir do que foi trabalhado com ele. Conte com vários
instrumentos de avaliação e selecione aqueles que proporcionem maior número e
qualidade de informações acerca do desempenho. É sempre bom lembrar que os
alunos com deficiência precisam passar pelos momentos avaliação ao mesmo tempo
que os colegas. Podemos dizer que este é um princípio importantíssimo para seu
processo de inclusão efetivo.
Ainda que a
classe esteja trabalhando na área de Matemática com as frações, por exemplo, e
ele com os cálculos simples, o aluno deve ser submetido à prova que aborda
estes cálculos, deve ser orientado para estudar, e sua prova deve ser montada
como as outras. Detalhes como cabeçalho idêntico ao da prova regular, sistema
de avaliação (notas ou conceitos) e correção/devolução no mesmo dia e na mesma
hora do grupo, são importantíssimos.
A observação
do aluno em momentos de aprendizagem ou de atuação coletiva é mais um
instrumento bastante valioso e oferece a possibilidade de avaliar outros
tópicos, que não os avaliados em uma prova, ou outra situação formal de
aprendizagem. Assim, todos os instrumentos são importantes, mas nenhum deles
substitui outro.
Não se esqueça
de fazer bons registros de todas as atividades realizadas com a turma e de
guardar as produções dos alunos. Isso vai ajudá-lo a traçar um panorama de
aprendizagem e focar, no planejamento, os pontos em que o aluno ainda precisa
avançar. Você também deve criar relatórios periódicos com as análises
quantitativa e qualitativa do desempenho dos alunos e utilizar esses dados no
momento de replanejar as aulas ou de repensar algumas atividades.
COMO ORGANIZAR SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS
Respondemos a
dez perguntas fundamentais para planejar boas seqüências didáticas
Elisa
Meirelles
Um dos grandes
desafios dos professores é como fazer um planejamento capaz de levar a turma a
um ano de muita aprendizagem. No livro Ler e
Escrever na Escola, o Real, o Possível e o Necessário (128 págs,
Ed. Penso, tel. 0800-703- 3444, 46 reais), Delia Lerner diz que "o tempo é
um fator de peso na instituição escolar: sempre é escasso em relação à
quantidade de conteúdos fixados no programa, nunca é suficiente para comunicar
às crianças tudo o que desejaríamos ensinar-lhes em cada ano escolar". E a
constatação não poderia ser mais realista.
Escolher quais conteúdos abordar
e de que maneira são questões fundamentais para o sucesso do trabalho que será
realizado ao longo do ano. A tarefa é complexa, mas há algumas orientações
essenciais que ajudam nesse processo. "Um bom planejamento é aquele que
dialoga com o projeto político-pedagógico (PPP) da escola e está atrelado a uma
proposta curricular em que há desafios, de forma que exista uma progressão dos
alunos de um estado de menor para um de maior conhecimento", orienta
Beatriz Gouveia, coordenadora de projetos do Instituto Avisa Lá. "Tendo
claras as diretrizes anuais, o docente pode desdobrá-las em propostas
trimestrais (ou bimestrais) e semanais, organizadas para dar conta do que foi
previsto", complementa Ana Lúcia Guedes Pinto, professora da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp).
Faz-se necessário criar situações
didáticas variadas, em que seja possível retomar os conteúdos abordados em
diversas oportunidades. Isso pressupõe um planejamento que contenha diferentes
modalidades organizativas: projetos didáticos, atividades permanentes e seqüências
didáticas.
Confira, a seguir, as respostas a
dez perguntas imprescindíveis para planejar e implementar boas seqüência didáticas.
1.
Como definir o tema da seqüência didática?
As seqüências sempre são parte
de um planejamento didático maior, em que você coloca o que espera dos
estudantes ao longo do ano. A escolha dos temas de cada proposta não pode ser
aleatória. Se, por exemplo, seu objetivo for desenvolver bons leitores, precisa
pensar qual desafio em relação à leitura quer apresentar à classe. Com base
nele, procure os melhores gêneros textuais para trabalhar. "É preciso
organizar as ações de modo que exista uma continuidade de desafios e uma
diversidade de atividades", explica Beatriz. Converse com o coordenador
pedagógico e com os outros docentes, apresente suas idéias e ouça o que têm a
dizer. Essa troca ajudará a preparar um planejamento eficiente.
2. O que levar em conta na sondagem inicial?
A sondagem é fundamental a todo
o trabalho por ser o momento em que são levantados os conhecimentos da turma.
Muitas vezes, os professores acham que perguntar "o que vocês sabem
sobre..." é suficiente para ter respostas, mas não é bem assim. Essa etapa
inicial já configura uma situação de aprendizagem e precisa ser bem planejada.
Em vez da simples pergunta, o melhor é colocar o aluno em contato com a
prática. No caso de uma seqüência sobre dinossauros, por exemplo, distribua
livros, revistas e imagens sobre o tema aos alunos, proponha uma atividade e
passe pelos grupos para observar como se saem. Não se preocupe se precisar de
mais de uma aula para realizar a primeira sondagem.
3. Como estabelecer conteúdos e objetivos?
Conteúdo é o que você vai
ensinar e objetivo o que espera que as crianças aprendam. Se, por exemplo, sua
proposta for trabalhar com a leitura de contos de aventura, precisa parar e
pensar o que especificamente quer que a turma saiba após terminar a seqüência.
"Pode ser comportamento leitor do gênero, característica da
linguagem", exemplifica Beatriz. De nada adianta definir um conteúdo e
enxertar uma série de objetivos desconexos ou criar uma seqüência com muitos
conteúdos. Como escreve Myriam Nemirovsky no livro O
Ensino da Linguagem Escrita (159 págs., Ed. Artmed, 0800-703-3444,
edição esgotada), "abranger uma ampla escala de conteúdos e crer que cada
um deles gera aprendizagem significa partir da suposição de que é possível
conseguir aprendizagem realizando atividades breves e esporádicas. Porém, isso
está longe de ser assim".
4. De que modo atrelar atividades e objetivos?
Definido o que você vai
ensinar e o que quer que a turma aprenda, é hora de pensar nas estratégias que
vai usar para chegar aos resultados. Vale detalhar esse "como fazer"
nas atividades da seqüência, que nada mais são que orientações didáticas. O
melhor, nesse momento, é analisar cada um dos conteúdos que se propôs a
trabalhar, relembrar seus objetivos e ir desdobrando-os em ações concretas.
"Para que a classe conheça as características de determinado gênero, por
exemplo, posso pensar em itens como: leituras temáticas, análises de textos de
referência, análise de alguns trechos específicos e verificação do que ficou
claro para a turma", sugere Beatriz. Cada atividade tem de ser planejada
com intencionalidade, tendo os objetivos e conteúdos muito claros e sabendo
exatamente aonde quer chegar.
5. Que critérios usar para encadear as etapas?
Quando você pensa nas ações
de uma seqüência didática, já tem na cabeça uma primeira idéia de ordem lógica
para colocá-las. Para que essa organização dê resultado, lembre-se de pensar em
quais conhecimentos a classe precisa para passar de uma atividade para a
seguinte (considerando sempre que os alunos têm necessidades de aprendizagem
diversas). Como escreve Myriam, "a seqüência didática será constituída por
um amplo conjunto de situações com continuidade e relações recíprocas".
Quanto mais você sabe sobre a prática, as condições didáticas necessárias à
aprendizagem e como se ensina cada conteúdo, mais fácil é para fazer esse
planejamento. Se ainda não tiver muita experiência, não se preocupe. Pode fazer
uma primeira proposta e ir vendo quais ações têm de ser antecipadas ou
postergadas.
6. Como estimar o tempo que dura a seqüência?
A resposta a essa pergunta não
está relacionada à quantidade de tarefas que você vai propor, mas à
complexidade dos conteúdos e objetivos que tem em mente. Para saber a duração
de uma seqüência, leve em conta o que determinou que os alunos aprendam e
quanto isso vai demorar. Cada ação pode exigir mais ou menos tempo de sala de
aula. "Repertoriar uma criança em um gênero, por exemplo, demanda mais
horas do que uma seqüência de fluência leitora", diz Beatriz. É
importante, também, pensar em como essa seqüência se encaixa na grade horária
da escola e como se relaciona com as demais ações que estão sendo realizadas
com as crianças. Se, por exemplo, você tem duas aulas por semana, as propostas
vão demorar mais do que se tivesse três. "Organize o tempo de modo que
seja factível realizar todas as atividades previstas", orienta Ana Lúcia.
7. Qual a melhor forma de organizar a turma?
"No curso de cada seqüência se
incluem atividades coletivas, grupais e individuais", escreve Delia. Cada
uma funciona melhor para uma intenção específica. "Você propõe uma
atividade no coletivo quando quer estabelecer modelos de comportamentos e
procedimentos", explica Beatriz. Ao participar de um grupo e trocar com os
colegas, a criança tem aprendizados que são úteis quando ela for trabalhar
sozinha. Já uma atividade em dupla é interessante quando quiser que o aluno
tenha uma interação mais focada, apresentando suas hipóteses e confrontando-as
com o outro. As propostas individuais, por sua vez, permitem à criança pôr em
xeque os conhecimentos que construiu. Essas organizações são critérios
didáticos que precisam ser pensados com base nos objetivos da cada etapa e nas
características da classe.
8. Como flexibilizar as atividades?
É bem provável
que você tenha, na turma, crianças com necessidades educacionais especiais
(NEE). E elas não podem ficar de fora do planejamento. Procure antecipar quais
ajustes podem ser necessários para que elas participem das propostas. As
adaptações não devem ser vistas como um plano paralelo, em que o aluno é
segregado ou excluído. A lógica tem que ser o contrário: diferenciar os meios
para igualar os direitos, principalmente o direito à participação e ao
convívio. O ideal é que a escola conte com um profissional de Atendimento
Educacional Especializado (AEE), que ajude você nessa tarefa, orientando-o
sobre como atuar em classe e complementando a prática na sala de recursos. A
inclusão não é obrigação apenas dos professores, mas de toda a escola. Para
mais orientações sobre o tema leia o texto “Passo
a passo da adaptação na sala de aula”.
9. Posso mudar os planos no meio do caminho?
Pode, sim. A seqüência é planejada
com base em uma hipótese de trabalho. Quando chega a turma de verdade, é
natural que alguns ajustes sejam necessários. Quem sabe precise retomar certos
conteúdos que não ficaram claros no ano anterior ou mudar a estratégia de uma
etapa que não combina com o perfil da classe. Tome cuidado, no entanto, para
não perder de vista os objetivos iniciais. Como explica Ana Lúcia, "o
planejamento dá condições para o professor chegar preparado em sala de aula e,
se for o caso, abrir mão de uma atividade, postergar, antecipar". Só assim
consegue-se alcançar resultados concretos. "Toda proposta didática implica
riscos; um deles é que a adote com rigidez, com certa ortodoxia. A
flexibilidade é uma característica fundamental, que deve existir sempre no
trabalho didático", defende Myriam em seu livro.
10. Como avaliar o que a turma aprendeu?
A avaliação pode ser feita de diferentes
formas. A pergunta principal que você tem de responder, ao final de uma seqüência,
é se os alunos avançaram de um estado de menor para um de maior conhecimento
sobre o que foi ensinado. Para isso, vale registrar os progressos de cada
estudante, observando como ele se sai nas atividades, desde a sondagem inicial
- que já é uma situação de aprendizagem - até a etapa final. Ao analisar esses
registros, fica fácil entender quais foram os avanços dos alunos. Aliado a
isso, pense em atividades avaliativas propriamente ditas, como provas e
trabalhos. Essas propostas precisam estar diretamente ligadas ao que você
ensinou na sala de aula. Retome os objetivos propostos e prepare uma consigna
na qual fiquem claros os saberes que estão sendo pedidos aos estudantes.
Publicado em
NOVA
ESCOLA Edição
269,
Fevereiro 2014.
Fonte: http://novaescola.org.br/formacao/como-organizar-sequencias-didaticas-planejamento-779478.shtml - Pesquisa realizada em 22/06/201
Entrar
na classe para analisar as interações entre os alunos e o professor requer
planejamento e quebra de resistência
Gustavo
Heidrich
O papel da coordenação
pedagógica
é melhorar a prática
docente
na formação continuada na escola. E, para saber das necessidades da equipe para
ensinar melhor, quem exerce essa função tem inúmeros recursos, como analisar o
planejamento das atividades, as produções dos alunos e o resultado
das avaliações. Contudo, existe uma ferramenta que vai direto ao ponto e permite
um conhecimento mais estreito dos problemas didáticos: é a observação feita na
sala de aula.
O objetivo
dessa ferramenta de formação é analisar as interações que são construídas entre
o professor, os estudantes e os conteúdos trabalhados (leia uma sugestão de pauta na última página).
Muitas vezes, o próprio docente não percebe que uma pequena mudança em sua
prática pode levar a resultados mais positivos - e uma pessoa de fora tem mais
facilidade para apontar um caminho. Nesta reportagem, você, coordenador pedagógico,
vai saber como romper eventuais barreiras para usar a observação da sala de
aula como uma ferramenta formativa.
Como dar os
primeiros passos e quebrar resistências
A ideia é
simples: você entra na classe, assiste a uma aula, faz anotações e, com base
nelas, tem mais segurança para planejar os encontros de formação e orientar os
professores, certo? Certo. Só que não é tão simples assim: alguns docentes
sentem seu espaço invadido com a presença de um observador.
É preciso
criar um clima e uma cultura em que a parceria no desenvolvimento profissional
esteja acima de melindres pessoais.
Para quem
está iniciando na função de coordenador ou chegando
a uma escola em que não existe essa prática, é um pouco mais complicado. O
primeiro passo é conversar com toda a equipe nos encontros coletivos,
esclarecendo que os principais objetivos são: montar a pauta de formação
continuada com base nas necessidades de ensino e conhecer bons exemplos de
prática didática que mereçam ser compartilhados com a equipe (sim, às vezes
elas ficam restritas a uma só sala de aula, quando poderiam ser divulgadas e
ajudar outros alunos a aprender).
Por isso, é bom consultar
cada um dos professores para ver se eles topam receber você. Mesmo quando todos
estão acostumados a essa rotina, é importante avisar o professor quando a
visita será realizada, como faz a coordenadora pedagógica Márcia Regina
Schiavetto, do CE SESI 146, em Matão, a 350 quilômetros de São Paulo (leia o quadro abaixo).
Envolver os
professores na elaboração da pauta também pode ser um procedimento útil para
quebrar resistências, pois eles mesmos podem indicar em que pontos necessitam
de ajuda e de soluções didáticas. É assim que trabalha a coordenadora pedagógica
Juliana de Mattos Parreira, da EEI Espaço Nossa Casa, na capital paulista (leia o quadro Em busca de
potencialidades).
COMPROMISSO FORMATIVO
NA
DEVOLUTIVA Márcia Schiavetto, de Matão, traça com os docentes
o plano de formação. Fotos: Marina Piedade
Ao passar pela secretaria da escola, os
professores de Ensino Fundamental II e Ensino Médio do Centro Educacional SESI
146, em Matão, a 350 quilômetros de São Paulo, dão uma paradinha para ver
quando a coordenadora Márcia Regina Schiavetto vai às salas de aula. O
cronograma mensal de observação fica disponível no quadro de recados. Os
docentes têm acesso também à planilha de observação que ela usa. Para
diminuir a ansiedade, ao terminar cada observação, ela conversa com os
docentes, mas a verdadeira devolutiva vem depois da análise que ela faz do
que viu e dos outros registros do professor. No fim, cada docente recebe um
relatório no qual há um espaço para que ele se manifeste. "No segundo
encontro individual, conversamos novamente sobre a prática dele, dou orientações
teóricas e traçamos um planejamento, que fica registrado no relatório como um
compromisso formativo entre nós", diz a coordenadora.
|
Atenção à postura dentro da sala de aula
Alguns
detalhes vão ajudar você a não ser invasivo no momento da observação. O primeiro
deles é lembrar que aquele espaço é do professor. Por isso, procure sentar-se
no fundo da sala ou nas laterais, manter a menor interação possível com os
alunos e nunca interferir na fala do docente.
Mesmo que a
pauta tenha sido discutida e fechada previamente, uma vez na sala é preciso
analisar todas as interações e estar aberto para se surpreender com situações
que não esperava encontrar - que podem, inclusive, ser extremamente positivas.
O que é
observado deve ser apenas anotado nesse momento. Durante e após a observação, você vai construindo
hipóteses sobre as interações que dão certo e as que precisam de ajustes - e
essa será a base do registro e da conversa posterior com o professor.
Devolutivas
consistentes apontam caminhos
O trabalho
de observação não termina
quando o coordenador sai da sala
de aula. Ao contrário. Talvez a parte mais importante venha a seguir: a
conversa com o professor. Tire uma cópia das anotações feitas e entregue a ele
antes da devolutiva para que possa se preparar para a conversa, que deve ser
sempre individual e, no máximo, uma semana após a data da observação. Inicie o
bate-papo citando tudo de positivo que você viu, demonstrando com isso que
reconhece o bom trabalho feito. Em seguida, trate dos pontos que precisam ser
melhorados.
Um procedimento que sempre
enriquece esse debate é a apresentação do embasamento teórico (para dar
consistência às observações e à apresentação de sugestões para a mudança da
prática). Não se esqueça de ouvir o professor, que certamente vai expor as
dificuldades que encontra e as necessidades que ele tem para colocar em uso as
propostas feitas por você.
"Todo
processo formativo é sempre conflituoso. O coordenador só
conquista o respeito do grupo quando o docente percebe que as devolutivas têm
resultados positivos na maneira de ensinar e, consequentemente, no desempenho
dos alunos", afirma Fátima Camargo, mestre em Didática pela Universidade
de São Paulo (USP) e consultora pedagógica.
O resultado
final desse processo deve ser um planejamento de formação para o professor e
para toda a equipe docente. Acreditar nessa perspectiva pressupõe encarar o
educador como um profissional capaz de construir as próprias estratégias de
ensino com base na reflexão sobre a prática.
EM BUSCA DE POTENCIALIDADES
PAUTA
CONJUNTA Juliana Parreira, de São Paulo, escolhe o que vai
ser
observado junto com o professor
Na entrada da favela de Paraisópolis, em São
Paulo, a EEI Espaço Nossa Casa atende 120 crianças da comunidade local.
Professora por sete anos, a coordenadora Juliana Parreira assumiu a nova
função há quatro. No começo, entrava nas salas sem avisar. "Mas me
lembrei de quando era professora e quanto era difícil ter na classe alguém
analisando meu trabalho." Hoje ela combina com os docentes todas as
visitas e as pautas são discutidas e compartilhadas nos encontros semanais de
formação. Muitas vezes, são os professores que pedem à coordenadora ajuda
para melhorar em determinados pontos. "A observação
não é inimiga do professor, mas uma forma de valorizar o trabalho dele. Ao
observar, busco tanto o que está bom e pode ser disseminado quanto o que pode
ser aprimorado. Na devolutiva, é fundamental se apoiar na teoria e se colocar
também como aprendiz no processo formativo", finaliza Juliana.
|
O que observar
Durante a observação em sala de aula, é preciso verificar como se
desenvolvem as interações entre professores, alunos e conteúdos e de que forma
elas podem se tornar tema da formação continuada na escola. Abaixo estão
algumas questões que podem servir de roteiro para essa prática. Relacione as
frases com destaque colorido com as explicações nos tópicos abaixo do quadro.
Pauta de observação de sala
de aula
Nome do professor ___________________________ Disciplina ___________________________
Conteúdo da aula ___________________________ Data da observação
___________________________
1. A interação entre os alunos e o conteúdo
- O conteúdo é adequado às necessidades de aprendizagem da turma?
- As atividades e os problemas
propostos são desafiadores e proveitosos para todos os alunos ou para
alguns foi muito fácil e, para outros, muito difícil?
- Há a retomada de conhecimentos trabalhados em aulas anteriores como um
ponto de partida para facilitar novas aprendizagens ou as atividades apenas
colocam em jogo o que já é conhecido pela turma?
- Os recursos utilizados são adequados
ao conteúdo?
- Como está organizado o tempo da aula? Foram reservados períodos de duração
suficiente
para os alunos fazerem anotações, exporem as dúvidas, debaterem e resolverem
problemas?
2. A interação entre o professor e os alunos
- Os objetivos de aprendizagem de curto e longo prazos dos conteúdos em
questão estão claros para a turma?
- As propostas de atividades foram entendidas por todos? Seria
necessário o professor explicar outra vez e de outra maneira? As informações
dadas por ele são suficientes para promover o avanço do grupo?
- As intervenções são feitas no momento certo e contêm informações que ajudam
os alunos a refletir?
- O professor aguarda os alunos terminarem o raciocínio ou demonstra
ansiedade para dar as respostas finais, impedindo a evolução do pensamento?
- As hipóteses e os erros que surgem são
levados em consideração para a elaboração de novos problemas?
- As
dúvidas individuais são socializadas e usadas como oportunidades de
aprendizagem para toda a turma?
3. A interação dos alunos com os colegas
- Os alunos se sentem à vontade para colocar suas hipóteses e opiniões na
discussão?
- Nas atividades em dupla ou em grupo,
há uma troca produtiva entre os alunos?
- Com que critérios a classe é
organizada?
- Os alunos escutam uns aos outros?
|
Para pensar em novas
abordagens
Problemas
adequados são os que representam um desafio possível. Ou seja, não podem ser
tão fáceis a ponto de serem solucionados sem esforço nem tão difíceis que se
tornem desestimulantes. Quando 80% da turma acerta sem dificuldade as questões
propostas, é hora de lançar novos desafios. Se mais da metade não encontra
solução, é preciso orientar o professor para que ele tente novas abordagens e
ajudá-lo a diversificar as atividades.
Como usar bem o material pedagógico
Mapas, slides, ilustrações, fotos e
vídeos precisam ser adequados ao conteúdo trabalhado, utilizados em momentos
certos e ter qualidade técnica. Quando alguma dessas coisas não acontece,
busque com o professor novas ferramentas ou indique maneiras mais eficientes de
usar as já disponibilizadas pela escola. No caso de recursos tecnológicos, é
sempre recomendável testá-los antes da aula.
Em busca
de clareza e objetividade
Muitas
dificuldades que aparecem durante os momentos de aprendizagem têm origem em uma
proposta confusa, mal elaborada ou comunicada de forma ineficiente. Durante a
observação, anote as falas do professor para posteriormente discutir a clareza
e a pertinência das propostas. Para torná-las mais claras, geralmente são
necessárias mudanças simples, como a substituição das palavras difíceis.
Fazer
do erro uma oportunidade de ensinar
Durante
a observação, anote os erros e as dúvidas apresentados pelos alunos e verifique
se o professor consegue fazer com que as dificuldades individuais sejam
oportunidades de avanço para todo o grupo. Os erros e as intervenções dos
professores também podem ser registrados para a tematização da prática durante
os encontros coletivos e os individuais.
Ajuda
na formação de grupos
É
preciso observar se as duplas ou os grupos foram formados aleatória ou
intencionalmente. A escolha dos pares precisa ser planejada e a formação vai
variar de acordo com os conteúdos. Ao perceber que um agrupamento não é
produtivo, analise com o professor o perfil dos alunos e ajude a montar outros
mais eficazes.
Para cada situação, um
grupo
Ao
perceber uma inadequação entre a organização da sala e o conteúdo, você pode
indicar, na devolutiva, outras formas de dispor os alunos. Em roda, em duplas,
trios ou quartetos. A forma como a turma trabalha deve estar relacionada aos
objetivos pedagógicos. Geralmente, grupos grandes servem para socializar
estratégias, mas não para trocar informações. Já quando o objetivo é colocar os
conhecimentos de cada aluno em jogo, o melhor são as atividades individuais.
Contribuição Hélio Silva.